Todo ponto de vista é apenas a vista de um determinado ponto.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

RESULTADO DA PESQUISA

Com quase 100 votações, terminou a poucos momentos a primeira pesquisa dOOb 2009, e com resultados no mínimo curiosos.



Com a pergunta "Qual foi, na sua opnião, o principal motivo para o vanguardismo da arquitetura brasileira ter se perdido nas últimas décadas?", nossa enquete buscou mostrar o que nós, estudantes e arquitetos de hoje, pensamos sobre o passado da nossa área. A pesquisa durou 1 mês, iniciando em 15 de janeiro de 2009 e se expirou hoje, 15 de fevereiro de 2009, e teve 95 votações




Deixando claro, não criamos essa pesquisa para descobrir nem esclarecer nenhum ponto histórico, mas sim para investigar o que nós pensamos hoje. Os fatores que nos levaram a perder nossa posição de destaque na Arquitetura mundial provavelmente são muito mais intrincados e menos óbvios do que esses que separamos, mas esses que separamos como opções são os mais recorrentes nos debates acadêmicos e nas nossas conversas de bar.

Portanto, sem mais delongas, vamos aos resultados:






AS DIMENSÕES CONTINENTAIS DO BRASIL
- 2 votos - 2%

Motivos para estar na enquete: O Brasil sofre do fenômeno sócio-político definido como a "Sindrome da China", quando um país é tão vasto e culturalmente rico que ignora de alguma forma a cultura de seus vizinhos e se volta para dentro. Potencializando ainda mais esse fenômeno, o fato de ser o único país da America Latina que fala português, o que nos deixa bem de lado das discussões e debates arquitetônicos que nossos vizinhos produzem.
Além disso o nosso tamanho físico e cultural diminui a possibilidade de diálogo entre escolas de arquitetura de diversos pontos do país, permitindo vácuos de provincianismo como o fato das nossas mais importantes revistas de arquitetura só publicarem filhotes da escola paulista, que em nada representam tudo o que é produzido de arquitetura hoje no país.
Ignoramos então a única vantagem de sermos grandes, que é o nosso prularismo cultural arquitetônico.

Comentário sobre o resultado: Acho q fomos mal compreendidos, só isso explica o fato dessa opção ter sido votada apenas duas vezes. Não que consideremos essa opção como a mais certa, mas na minha opinião é uma que merecia melhor desempenho.
________________________________________________







A INSTABILIDADE ECONÔMICA - 4 votos - 4%

Motivos para estar na enquete: Arquitetura é um hobby caro por natureza, e o auge da arquitetura moderna brasileira, os anos 50, foi um periodo de grande prosperidade e crescimento.
Portanto a associação é natural, ainda mais se levando em conta que os anos 80 e 90 com hiperinflação, congelamento de preços e roubo de poupanças não são tão bem lembrados por nós.

Comentário sobre o resultado:
Dessa vez entendemos a pouca expressividade dos votos nessa opção. Claro que o fator econômico é importante, mas não é o dominante. Ao mesmo tempo em que temos exemplos como o Chile que está alcançando seu explendor arquitetônico agora com o país prosperando a mil, temos a Bauhaus que surgiu em uma Alemanha num terrível entre-guerras.
_______________________________________________






A DITADURA MILITAR - 8 votos - 8%

Motivos para estar na enquete: Lugar tão comum quanto Oscar Niemeyer, quando em se tratando da quebra do desenvolvimento da cultura brasileira, a ditadura militar com seus orgãos de sensura e sua repressão tem, sim, sua boa parcela de culpa.

Comentário sobre o resultado:
Dada a importância desse tema na discussão geral da cultura brasileira, seja na música, no cinema ou na arte, é claro que esperava que também tivesse peso quando o debate fosse arquitetônico. Artigas foi perseguido, Paulo Mendes da Rocha juntamente com outra leva de professores foram expulsos das faculdades. Todo um processo, uma escola e uma tradição foi interrompida e tudo o que essa geração acreditava como certa foi posto em cheque. Dado isso, a ponte entre os mestres e a nova geração foi de certa forma quebrada, o que abriu possibilidade para tamanho vácuo.
Consideramos particularmente essa a mais relevante das opções apresentadas.
__________________________________________________







O PÓS MODERNISMO - 13 votos - 13%

Motivos para estar na enquete: Se o auge da arquitetura brasileira foi no modernismo, e o pós modernismo surgiu após a crise do modernismo, logo surge o raciocínio de que o pós modernismo com suas filosofias e novas práticas seriam agentes catalizadores da crise do modernismo brasileiro.

Comentário sobre o resultado: Inserir culpa no pós modernismo quando o tema é a arquitetura mundial até soa plausível, mas no Brasil? O debate pós moderno chegou até nós com décadas de atraso e nossa geração po-mo parece ter muito mais méritos para celebrar do que pecados para julgar. Particularmente felizes pela pouca expressividade das votações nessa opção.
_______________________________________________








OSCAR NIEMEYER - 14 votos - 14%

Motivos para estar na enquete: Clichê máximo quando se toca nesse assunto mas verdadeiro e plausível como todos os clichês, Oscar Niemeyer à medida em que se tornava um símbolo, ofuscava (e ofusca) tudo aquilo que representava. Assim como a sombra de uma grande árvore não deixa grama crescer à sua volta a mídia e as publicações arquitetônicas, na tentativa de cobrir toda sua produção, acabaram fazendo injustiça com outros grandes nomes da arquitetura brasileira e praticamente ignoraram a geração seguinte.

Comentário sobre o resultado: Por ser o lugar comum que dá mais ibope nesse tema, apostaria minhas calças que o Niemeyer ganharia essa enquete. Não que eu acredite nisso, afinal a culpa é nossa de carregarmos essa necessidade de sempre ter um rei: Rei Pelé, Rainha Xuxa, e ignorarmos todo o resto. Mas enfim, se a culpa foi dele ou não, não foi foi o que a pesquisa respondida por vocês apontou.
______________
_______________________________







A FALTA DE CULTURA ARQUITETÔNICA E GERAL DO BRASILEIRO MÉDIO - 54 votos - 56%

Motivos para estar na enquete: Assim como na degustação de vinhos, a boa espacialidade não é algo apreciado ou mesmo percebido por todos.
E, mesmo quando o indivíduo tem um grau de escolaridade elevado, é muito comum que ele não tenha senso ou percepção alguma para a Arquitetura, preferindo se ater a questões mais óbvias, materiais e vísiveis como revestimentos em granito, vidros espelhados, telhados, "casas com cara de casa", capitéis jônicos e quaisquer outros tipos de ostentações vulgares, do que deixar que o arquiteto desenvolva questões mais relevantes como a luz, o espaço, a forma ou até mesmo a funcionalidade do objeto.

Comentário sobre o resultado: Realmente intrigante. Mais de 50% dos votos foram logo para a opção que julgamos a menos correta. Não estamos aqui para defender o brasileiro médio, apenas constatando um raciocínio óbvio: no auge do modernismo a cultura arquitetônica e geral do brasileiro médio era igual ou pior a da que nós encontramos hoje, muito provavelmente pior. Então não há lógica alguma em descarregar a culpa nessa opção. Mas enfim, deve ser mais fácil culpar o brasileiro médio do que qualquer outra coisa.




Pois então termina aqui a nossa pesquisa.

Esperamos que tenham gostado!

Aguardem novidades!

4 comentários:

Anônimo disse...

Na minha opinião a coisa é bem simples, no Brasil os dois motivos para arquitetura ser ou não ser o q é hoje são:

1-falta de dinheiro da maioria da população (uma das piores distribuições de renda do mundo);

2-falta de cultura e critica de arquitetura sim dos q tem condições de construir e tambem da classe politica e até intelectual do pais, q parece nao ter mto interesse no tema.

Agora, saber as causas do motivo 2 é coisa para filosofos, antropologos etc... Ai creio tb q os arquitetos no Brasil devem trabalhar dobrado, se expor mais (sem perder a etica), promover mais seu trabalho, ser mais militante, marketeiro etc... Como nesta iniciativa dos blogs q rolam por ai, apesar de a maioria deles só falar para "arquitetos"...

p.s. a vanguarda no modernismo se deve ao apoio do estado (na figura do JK) e a oportunidade ímpar de se construir uma cidade capital de pais do zero, além é claro de termos um arquiteto q soube interpretar e de certa forma revolucionar um movimento da época, tornando tal movimento mais "nacional" e de grande apelo popular pela monumentalidade e inovação formal q trazia.

Abraços, Alex Couri

Henrique Gonçalves disse...

Concordo com sua posição e também acredito que seja por aí.

A arquitetura brasileira só foi o que foi com o impulso estatal, aliança quebrada com a ditadura.

Agora continuo discordando da sua 2° posição: Se a cultura e crítica de arquitetura na classe dominante hoje não é tão válida a coisa não era melhor nos anos 30, 40 e 50; e contrariando esse dado, o que mais temos de exemplos dessa época são residencias unifamiliares ou pequenos empreendimentos particulares projetados por arquitetos vanguardistas, com designs extremamente avançados para a época.

Portanto como esses arquitetos conseguiram vender suas idéias em uma época em que mulher não votava, e hoje que temos internet, informações gratuitas transbordando e tudo mais, e não conseguimos emplacar nossas intenções aos nossos clientes?

Para isso sinceramente não tenho resposta.

Anônimo disse...

Mas hj tb temos focos (ilhas) da chamada boa arquitetura...sempre tem boas coisas nas AUs da vida..mas o vanguardismo depende de varios fatores e de um momento historico X, nao me preocupo se hj o brasil tem vanguarda na arquitetura, a unica coisa que eu queria ver é a profissão mais valorizada e entendida pela população como um todo.. e isto de fato nunca aconteceu no brasil.

Alex

Henrique Gonçalves disse...

Sim,aparecem alguns bons exemplos de arquitetura nacional nas nossas clássicas revistas, mas nossa projeção internacional hoje é zero se comparada ao período moderno.

Quanto ao fato da nossa profissão não ser valorizada eu concordo com você e vou além: em nenhum lugar do mundo ela é valorizada da forma como deve ser.