o telefone tocou no meio da noite e ele atendeu rapidamente, saltando da cama como se um século não pesasse nos ombros nem nas pernas. Do outro lado da linha uma voz conhecida mas que ele não ouvia a mais de 15 anos.
- Oscar?
- Sim, sou eu, quem fala?
- É o Roberto, Roberto Burle Marx. Quanto tempo hein Oscar? Nunca pensei que ia demorar tanto pra você vir pra cá. Olha, desculpa o mau jeito de te ligar assim no meio da noite. É que essas conversas só funcionam quando vocês vivos estão meio dormindo meio acordados. Olha Oscar, nós andamos conversando muito sobre você nos últimos anos. Impressionante como os anos passam depressa aqui, acho que diante da eternidade tudo fica minúsculo..... mas sobre isso a gente conversa depois quando você chegar. O Lucio foi contra, acha que você não vai ouvir, mas o resto do pessoal me pediu pra te dar o recado. É o seguinte, nós estamos todos preocupados com o que você anda fazendo atualmente. Cada prédio mal detalhado, mal construído. Para Oscar. Para e vai curtir as homenagens que você merece. Vai desenhar suas mulheres curvilíneas e para de desenhar esses prédios com curvas sem sentido. Se for por dinheiro arruma um jeito de vender seus desenhos. O Corbusier fez isso quando viu que seus projetos já não tinham a mesma força. Eu também passei a pintar mais e projetar menos quando percebi que os jardins já não saiam com a mesma vivacidade. E com esses prédios sem graça você está arruinando a sua biografia Oscar. Aquele moço do New York Times escreve muita bobagem mas acertou na mosca em 2007 quando disse que você estava vivendo o suficiente para estragar sua própria obra. O Charles Moore ficou muito meu amigo (não sei como não o conheci antes, um amor o Charles) e sempre fala do arrependimento de fazer aquela Piazza di Italia em New Orleans. Uma pracinha a menos e a obra do Charles ficaria muito mais íntegra. Você já acumula uma dezena de “piazzas” Oscar e ainda quer fazer uma grande bem no meio do eixo monumental! Já não basta enfiar um auditório no meio da Casa do Baile, aquela biblioteca sem livros em Brasília ou esse Centro Administrativo no caminho de Confins. Aliás, passa em Confins pra você lembrar a beleza do detalhamento do Milton. Se você ainda tivesse gente como o Milton ou o Lelé pra detalhar seus esboços.... Você não precisa disso Oscar, já é de longe o mais importante arquiteto das Américas no século XX (o Frank tá aqui resmungando mas pra começar ele nasceu no século XIX). Desenhe Oscar. Escreva Oscar. Esse negócio de arquitetura dá trabalho demais e quando feito as pressas fica muito ruim. Olha, tá todo mundo mandando um abraço e dizendo pra você demorar bastante. Na verdade a gente morre de inveja da sua longevidade (e alguns do seu talento).
- Oscar?
- Sim, sou eu, quem fala?
- É o Roberto, Roberto Burle Marx. Quanto tempo hein Oscar? Nunca pensei que ia demorar tanto pra você vir pra cá. Olha, desculpa o mau jeito de te ligar assim no meio da noite. É que essas conversas só funcionam quando vocês vivos estão meio dormindo meio acordados. Olha Oscar, nós andamos conversando muito sobre você nos últimos anos. Impressionante como os anos passam depressa aqui, acho que diante da eternidade tudo fica minúsculo..... mas sobre isso a gente conversa depois quando você chegar. O Lucio foi contra, acha que você não vai ouvir, mas o resto do pessoal me pediu pra te dar o recado. É o seguinte, nós estamos todos preocupados com o que você anda fazendo atualmente. Cada prédio mal detalhado, mal construído. Para Oscar. Para e vai curtir as homenagens que você merece. Vai desenhar suas mulheres curvilíneas e para de desenhar esses prédios com curvas sem sentido. Se for por dinheiro arruma um jeito de vender seus desenhos. O Corbusier fez isso quando viu que seus projetos já não tinham a mesma força. Eu também passei a pintar mais e projetar menos quando percebi que os jardins já não saiam com a mesma vivacidade. E com esses prédios sem graça você está arruinando a sua biografia Oscar. Aquele moço do New York Times escreve muita bobagem mas acertou na mosca em 2007 quando disse que você estava vivendo o suficiente para estragar sua própria obra. O Charles Moore ficou muito meu amigo (não sei como não o conheci antes, um amor o Charles) e sempre fala do arrependimento de fazer aquela Piazza di Italia em New Orleans. Uma pracinha a menos e a obra do Charles ficaria muito mais íntegra. Você já acumula uma dezena de “piazzas” Oscar e ainda quer fazer uma grande bem no meio do eixo monumental! Já não basta enfiar um auditório no meio da Casa do Baile, aquela biblioteca sem livros em Brasília ou esse Centro Administrativo no caminho de Confins. Aliás, passa em Confins pra você lembrar a beleza do detalhamento do Milton. Se você ainda tivesse gente como o Milton ou o Lelé pra detalhar seus esboços.... Você não precisa disso Oscar, já é de longe o mais importante arquiteto das Américas no século XX (o Frank tá aqui resmungando mas pra começar ele nasceu no século XIX). Desenhe Oscar. Escreva Oscar. Esse negócio de arquitetura dá trabalho demais e quando feito as pressas fica muito ruim. Olha, tá todo mundo mandando um abraço e dizendo pra você demorar bastante. Na verdade a gente morre de inveja da sua longevidade (e alguns do seu talento).
algum tempo depois ele acordou e foi se vestir. Ia receber muita gente no escritório para mostrar mais um projeto (desenhado ontem) para mais um político enraizado nas idéias e nas formas do século passado.
the phone ringed in the middle of the night and he got it quickly, jumping out of the bed as if a century had no weigh. On the other side a voice that he knew from years ago.
- Oscar?
- Yes, that’s me, who’s that?
- It’s me, Roberto, Roberto Burle Marx. Long time no see. I never thought it would take so long for you to join us. Please forgive me the bad timing, in the middle of the night. We can only reach live people when you are half awake and half asleep. Oscar, we have been talking a lot about you in recent years. Amazing how the years go fast here, I think that in the face of eternity everything becomes so tiny ..... but we can talk about it later when you to arrive. Lucio did not agree, he believes (probably correctly) that you hear nobody. But all the others insisted that I should call you. Here’s the thing: we are all worried about what you are building nowadays. Poorly detailed, poorly constructed. Stop Oscar. Enjoy the honors that you deserve. Go back to drawing your curvilinear women and stops drawing building with meaningless curves. If it is for the money you can make a good living with your drawings. Corbusier did that and I also started painting more when I perceived that the gardens didn’t have the same vivacity as before. Those tasteless buildings are ruining your biography Oscar. That boy from the New York Times was correct in 2007 when he said that you lived long enough to ruin your own work. Charles Moore is also here and he is my best friend now - I don’t know why I never met him before - always talking about how much he regrets that Piazza di Italia in New Orleans. A single small piazza taints Charles biography and you have already accumulate half a dozen “piazzas” Oscar. Why put an auditorium inside Casa do Baile? Why build an empty library in Brasilia? Why this monster administrative center close to Confins airport? By the way, go back to Confins to see the elegant detailing that Milton designed. If only you still had people such as Milton or Lelé to detail your sketches…. You don’t need this Oscar. You are already the most important architect of Americas in the 20th century (Frank is screaming here but for a start he was born in the 19th century). Go draw Oscar. Go write Oscar. This business of architecture is too complicated and when done in a hurry it looks awful. Everybody here says hello and tell you to stay alive as much as possible (everybody envies your longevity and some envy your talent too).
some time later he woke up. Later in the day he would have a lot of people in the office to show a project, drawn yesterday, to one more politician rooted in the ideas and the forms of the previous century.
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Texto original cedido pelo professor Fernando Lara, do Parede de Meia.
Finalmente escreveram a crítica que precisava ser escrita, da forma como deveria ser escrita.
6 comentários:
absurdo como o texto tá se alastrando pelos blogs!
Será que chega nas mãos do velhinho? :P
Como disse no blog do professor Fernando: A melhor crítica que lí nos ultimos tempos!
É, viver mais de 100 anos é complicado...
Agüentar no início da vida críticas de boçais que pouco sabem e nada entendem
e termina-la da mesma forma com as mesmas balelas e chavões.
Sorte que esses novos "entendidos" passarão, como os outros passaram.
A vida e a história se encarregarão do restante.
O problema de comentário anonimo é esse: quem tem cu tem medo.
. . .fica a dica. . .
Siga o exemplo de quem você admira.
Porque, ao menos, o Oscar dá sua cara a tapa.
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