Todo ponto de vista é apenas a vista de um determinado ponto.

sábado, 18 de abril de 2009

Brave New Spacial World (I)


CENA 1

Sala de Aula da Arquitetura - semestre 2 de 2037

PROFESSOR


(...) Portanto, concluindo nosso capítulo: após a morte de Richard Rogers, em 2018, juntamente com o lançamento do livro " O Planeta nem é tão pequeno assim" (em inglês, Small Planet, Why?), as questões ambientais e ecológicas dentro da Arquitetura e Urbanismo sofreram um forte abalo, encerrando talvez mais um capítulo da nossa recente arquitetura.
Alguma pergunta?

- Sebastian, um dos alunos, levanta a mão, no que é consentido por um aceno de cabeça do professor -

SEBASTIAN

Professor, volte ao holograma cinco, por favor... obrigado. Nessa parte da matéria, o senhor nos sensibiliza para a questão da invenção do hidro-núcleo, em 2013, um motor atômico portátil à base de água, e de como ele resolveu todas as questões de poluição atmosférica, deixando, assim, edifícios verdes em desuso. O hidro-núcleo só foi criado devido ao nosso alto nível de consciência ecológica... portanto, na minha opinião, a arquitetura verde conseguiu alcançar seu objetivo.

PROFESSOR


De certa forma, sim. Como um organismo saudável, ele gerou frutos, respondeu às suas perguntas e após isso veio a falecer. Classe, quando digo que um movimento chegou ao fim, não quero negar seu legado...

SIG

Mas, professor, como saber quando algo está morto? Se tudo o que produzimos agora é baseado na produção anterior, se não houve rupturas, se mais uma vez não surgiu nenhuma vanguarda, se o mundo ainda é comandado por velhos, ainda vivemos o mundo de Rogers.

PROFESSOR


Creio que não, Sig. Você é filho de seu pai, mesmo saindo dele, tendo herdado todas as suas características, e começando do ponto de partida deixado por ele, você ainda é filho. Lembra-se de quando você comprou um pacote de memórias, semestre passado, e distribuiu para a turma?

SIG

Sim.

PROFESSOR

Essas memórias de viagens produzidas por empresas especializadas, inseridas em nossos cérebros através de um complexo sistema digital-neural (SDN) nos transmitem sensações, cheiros, sentimentos, temperaturas, ou seja, nos transmitem o mais perfeito simulacro de realidade já imaginado pelo homem.

SIG

Sim.

PROFESSOR

Se você sentiu Paris, andou por Paris, teve percepção temporal de Paris, passando alguns dias por ela, eu te pergunto, qual o motivo de você ir à Paris real?

SIG

Mas isso democratizou viagens, lugares, enfim, a vida...

PROFESSOR

E você vê vantagem nisso? A mulher mais perfeita, a viagem mais plena, o espaço mais sagrado, o momento mais único, tudo agora pode ser dividido em 12 vezes. Democratizar e banalizar talvez sejam a mesma coisa.
Definitivamente nós não vivemos mais nos tempos de Rogers. Para nossa geração, pouco vai importar quanto mais tempo o mundo ou a natureza irão durar.
Creio que nos deparamos com uma pergunta muito mais ingrata e amarga de responder.
Tenho saudades de quando nossas preocupações eram unicamente espaciais, materiais, detalhamentos, fluxogramas ou o uso inteligente da água.
Enfim, melhor não lamentarmos, a aula está terminada e vocês liberados.

- todos saem da sala, professor fica para guardar o Hollogram -
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CENA 2

Cantina da Faculdade - Sebastian e Sig lancham em uma das mesas

SIG

(após alguns segundos de meditação)
De boa, esse professor é um cagão.

Um comentário:

Thiago Beck disse...
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