Entendemos que decisões Urbanas não deveriam ser tomadas sem o exaustivo estudo das questões MACRO, e não por força política ou soluções inocentes.
Nesse artigo o Arquiteto Bruno Sarmento explica de maneira simples os motivos pelos quais a proposta apresentada na Câmara dos vereadores de Juiz de Fora é imediatista e impensada.
Este tipo de solução e raciocínio infelizmente ressoa em diversas cidades do país.
Por BRUNO SARMENTO
A proposta apresentada na Câmara dos vereadores de Juiz de Fora de coibir a construção de edifícios multifamiliares nos bairros São Mateus, Alto dos Passos, Estrela Sul e Cascatinha coloca em questão não apenas o futuro destas regiões, mas, sobretudo, qual será o modelo de crescimento que se pretende adotar para nossa cidade nas próximas décadas. Mais uma vez, parece que estamos resumindo as complexas questões referentes à cidade aos problemas do trânsito e, o que é pior, sobre a ótica do transporte individual. Trata-se de um caso clássico onde procura-se atacar as consequências sem sequer discutir efetivamente sobre suas causas.
É fundamental que se entenda que o problema da cidade não é como fazer para melhorar a circulação de seus veículos, e sim como depender cada vez menos do automóvel individual para se deslocar, ou mesmo da necessidade do deslocamento. Qual seria a forma mais adequada para o crescimento das cidades: adensando-as verticalmente ou horizontalmente, espraiando-as?
Apesar de aparentemente mais encantador, o que se pode afirmar é que cada vez mais arquitetos e urbanistas demonstram a insustentabilidade de um modelo de crescimento dominantemente horizontal. Cidades espraiadas têm uma mancha urbana maior, o que significa dizer que ocupam mais territórios à medida que crescem, reduzindo as, cada vez menores, paisagens naturais não urbanizadas. Além disso, são mais caras para o Poder Público e, consequentemente, para o cidadão, que é quem efetivamente paga esta conta.
Afastando os habitantes uns dos outros e dos equipamentos públicos aos quais todos têm direito, teremos que, obrigatoriamente, construir mais equipamentos e infraestrutura. Isso significa mais vias asfaltadas, redes de esgoto, de águas pluviais, de energia, mais iluminação pública, limpeza urbana, coletas de lixo mais distantes, mais hospitais, escolas, delegacias, segurança, e assim por diante. E não estamos falando apenas dos custos de implantação, mas também de operação e manutenção. Todos estes custos serão diluídos por um número menor de habitantes em um modelo mais horizontal, enquanto cidades mais adensadas permitem um rateio mais eficiente, pois cada terreno é ocupado por um número maior de famílias. É, sem dúvida, mais sustentável e econômico melhorar a infraestrutura existente do que depender de criar infinitamente novas estruturas. Quanto mais afastados dos equipamentos urbanos, do seu cotidiano e dos demais habitantes da cidade, mais dependentes do deslocamento estes habitantes se tornarão. Consequentemente, mais dependentes dos meios de transporte coletivo e, o que é ainda pior, individual.
Não há dúvida de que é necessário promover uma maior distribuição da população da cidade pelos territórios já urbanizados e equilibrar o adensamento nestas áreas, mas não através de ações isoladas, e sim por ações sistêmicas visando a objetivos claros e suficientemente discutidos.
Por BRUNO SARMENTO
A proposta apresentada na Câmara dos vereadores de Juiz de Fora de coibir a construção de edifícios multifamiliares nos bairros São Mateus, Alto dos Passos, Estrela Sul e Cascatinha coloca em questão não apenas o futuro destas regiões, mas, sobretudo, qual será o modelo de crescimento que se pretende adotar para nossa cidade nas próximas décadas. Mais uma vez, parece que estamos resumindo as complexas questões referentes à cidade aos problemas do trânsito e, o que é pior, sobre a ótica do transporte individual. Trata-se de um caso clássico onde procura-se atacar as consequências sem sequer discutir efetivamente sobre suas causas.
É fundamental que se entenda que o problema da cidade não é como fazer para melhorar a circulação de seus veículos, e sim como depender cada vez menos do automóvel individual para se deslocar, ou mesmo da necessidade do deslocamento. Qual seria a forma mais adequada para o crescimento das cidades: adensando-as verticalmente ou horizontalmente, espraiando-as?
Apesar de aparentemente mais encantador, o que se pode afirmar é que cada vez mais arquitetos e urbanistas demonstram a insustentabilidade de um modelo de crescimento dominantemente horizontal. Cidades espraiadas têm uma mancha urbana maior, o que significa dizer que ocupam mais territórios à medida que crescem, reduzindo as, cada vez menores, paisagens naturais não urbanizadas. Além disso, são mais caras para o Poder Público e, consequentemente, para o cidadão, que é quem efetivamente paga esta conta.
Afastando os habitantes uns dos outros e dos equipamentos públicos aos quais todos têm direito, teremos que, obrigatoriamente, construir mais equipamentos e infraestrutura. Isso significa mais vias asfaltadas, redes de esgoto, de águas pluviais, de energia, mais iluminação pública, limpeza urbana, coletas de lixo mais distantes, mais hospitais, escolas, delegacias, segurança, e assim por diante. E não estamos falando apenas dos custos de implantação, mas também de operação e manutenção. Todos estes custos serão diluídos por um número menor de habitantes em um modelo mais horizontal, enquanto cidades mais adensadas permitem um rateio mais eficiente, pois cada terreno é ocupado por um número maior de famílias. É, sem dúvida, mais sustentável e econômico melhorar a infraestrutura existente do que depender de criar infinitamente novas estruturas. Quanto mais afastados dos equipamentos urbanos, do seu cotidiano e dos demais habitantes da cidade, mais dependentes do deslocamento estes habitantes se tornarão. Consequentemente, mais dependentes dos meios de transporte coletivo e, o que é ainda pior, individual.
Não há dúvida de que é necessário promover uma maior distribuição da população da cidade pelos territórios já urbanizados e equilibrar o adensamento nestas áreas, mas não através de ações isoladas, e sim por ações sistêmicas visando a objetivos claros e suficientemente discutidos.